sábado, 30 de agosto de 2008

Não. Isso não é.

Existem palavras que deveriam ter a definição proibida. Sem dicionários, palavras como religião, felicidade e morte que tentam ser explicadas pelo homem como matemática, estariam livres de um julgamento. Há quem se arrisque nessas palavras, ao invés de as definindo por lógica, provando o sabor de cada uma delas. Entre tantas, também o amor.

Amor, sim. Sentimento que, ilógico, me nego a tentar dizer o que é. Me nego por não ter a capacidade humana de buscar respostas onde não existe. Capacidade que tenta ser sábia quando é tão inexpressiva e que desunamiza o humano ao tentar definir o que é impossível. Agora, ao ver pequenas coisinhas ausentes de amor, me sinto totalmente capaz de dizer o que, definitivamente, ele não é. O que não é o amor.

Bobo que penso não ser, escrevo o fácil: o ódio. Ele com certeza não é o amor. Ele me faz acreditar no impossível de que um sentimento tão inimigo é capaz dividir com o amor o mesmo corpo. O ódio é forte, dá a força, descontrole e a sensação de sermos capazes de tudo. Capazes até de matar o amor que mora no coração, ao lado do seu próprio assassino.

Mesmo assim há quem segure o duelo e consiga, com ódio, viver assassinando o amor. Não digo ódio no sentido à ex do seu namorado que te chamou de vaca ou ao cara que arrebentou seu carro e mesmo culpado não pagará pelo conserto. Digo no ódio ao eu. No ódio que de tão eu, é egoísta e nem eu, nem você percebemos.

Aquele ódio que não é capaz de nos fazer sorrir, devido ao ônibus lotado que nos espera. Pior ao que não tem pernas e não consegue pega-lo. O ódio daquele cabelo despenteado que não se ajeita. Pior ao cego que não enxerga o espelho. Ou aquele ódio ao reclamar da carne dura no prato, que os que têm fome odiariam se não pudessem a comer.

É, quando me esforço em pensar que o amor deveria ser o combustível da vida, me deparo com ódios. Vivendo assim, prefiro chamar isso não de vida, mas de vidinha. Vidinha como essa da necessidade de prazeres excessivos onde a felicidade é inalcançável e constrói um mundo em busca do prazer, longe de qualquer simplicidade. Mundo que poderia apenas, como único que é, ser tão simples como A de amor. Um mundo em sua essência puro e simples. Onde todas as peles fossem de uma só cor e não tivéssemos olhos para enxergar aparências. Quem tal sem boca? Assim, quem sabe, o sentimento de amor se transformaria de uma palavra a um gesto.

Isso, cara: gesto. Esse que é trocado por uma palavra que se quebra fácil. Que não é amor. É palavra. É a palavra que o desapaixonado diz não existir - como o ateu sobre a suposição de deus –, que assim só diz porque nunca conheceu. Nunca conheceu amor.

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